“Sinto que me tiraram uma oportunidade e a deram para outra pessoa”
Fernanda Marchesi Grobério
19 anos, estudante.
Jornal A gazeta 13/02/08
Os políticos e autoridades deveriam se preocupar em melhorar a educação pública e não em criar cotas para facilitar a entrada de alunos da rede na Universidade Federal do Espírito Santo.
Os alunos da rede pública deveriam protestar a favor da melhoria de ensino e qualificação de mestres, não sob uma causa que tráz uma falsa ideia de progresso na educação do Estado.
Penso que todos os estudantes deveriam formar suas opiniões críticas sobre o assunto para juntos acolhermos a melhor decisão do Ministério da Educação.
Afinal...o futuro desse país nos pertence!
Ranielly Fiorott
17 anos, Estudante do 3º ano médio
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2006/03/349075.shtml
Pois é. Na UFES (Universidade Federal do Espírito Santo) foi instituída a cota no ano de 2007 para o vestibular 2008/1. As cotas são para alunos de escolas públicas (a exigência é de 8 anos em rede pública inclusive TODO o ensino médio) com a renda mensal de cerca de dois mil reais. Não entram no sistema de cotas os bolsistas de colégios ou cursinhos particulares MESMO INTEGRAIS. É entendido que devem entrar aqueles que têm uma defasagem no ensino por estudarem em colégios públicos. Pessoas que estudaram por anos na rede pública, aos trancos e barrancos e conseguiram bolsa em colégios bons, ou mesmo foram pra colégios de bairro pagos com muita dificuldade, acabam sendo prejudicados. A meu ver, deveriam ter o direito como os demais a disputar essas vagas.
Enquadro-me no primeiro gênero, através de uma seleção consegui obter uma bolsa considerável pra um excelente colégio e acabei ficando de fora do benefício.
Se por um lado alegam que foi considerado na adoção de cotas o tipo de ensino e a impossibilidade da família de poder pagar pela graduação privada, percebemos algo de errado aí nesse quesito. Por exemplo: Os alunos do CEFETES (Centro Federal de Educação Tecnológica do Espírito Santo) que são admitidos através de uma prova de nível difícil são alunos selecionados. Como são submetidos a uma prova cuja concorrência e nível são assustadores em se tratando da faixa etária compreendida, pode-se dizer que a maioria vem de famílias abastadas e com núcleo estável. Fora que o ensino é de qualidade indiscutível. Por que eles entram nas cotas e nós não?
Confesso que fui a favor das cotas e cheguei a brigar por elas. Achava burguesa demais a forma de argumentação das pessoas. Era como se elas quisessem se beneficiar sempre. “O Cefetes não estava bom pra eles?” eu pensava. Bom, no meu terceiro ano integrado, conheci gente muito capaz, esforçada que está nessa luta há algum tempo, mas não desiste dos seus sonhos. Muitos deles os pais pagam aquela mensalidade estratosférica e o material com muita dificuldade. Não é justo que tirem o mérito deles com frases do tipo: “perdeu play boy, perdeu, agora eu entrei e você volta pro cursinho”. Essa frase me encheu de revolta, porque conheço bem esse tipo de pessoa. Eles não perderam o precioso tempo deles de 7 da manhã às 7 da noite dos sábados no colégio, não deixaram de sair ou descansar no domingo pra estudar. São pessoas que querem tudo na mão e reclamam por serem marginalizadas. E eu pergunto “posso ver o seu boletim?”... Pois é, então quem é você pra achar que é o injustiçado?
Ah, e tem mais, quem é aluno de escola particular quase não têm o direito ao Fies (programa do governo federal que financia mensalidades em faculdades particulares), Prouni ou aos cursinhos gratuitos oferecidos pelo governo federal. Bacana né?
É claro que dentre essa leva de seres abomináveis existem muitos os quais torci muito, porque são esforçados e acabam estando sempre em desvantagem devido ao péssimo ensino durante toda a vida e, por vezes, da falta de estímulo e desequilíbrio da família. Muitos não têm o que comer. E é por eles que ainda sou a favor das cotas. Não dessa burrice que a Ufes adotou de forma autoritária (poucas semanas antes do edital). Daí perguntam: “onde está a organização de estudantes?” e eu respondo “ alguém tem ouvido algo a cerca dos sem-terra?”. Parece que os órgãos de protesto estão mortos, ou, no mínimo cegos e surdos para o que acontece. Mas como eu mesma não sou ativista, não critico esse ponto.
Aliás, houve um protesto. Ou melhor, dois. O primeiro foi na época que quiseram implantar as cotas pra negros e índios, daí o pessoal do colégio mais caro do estado se revoltaram e todos eles, louros de olhos claros e com sobrenome europeu deram chilique dizendo que eram negros. Daí a Ufes abafou o caso. Ano passado, no entanto, a Ufes foi violenta, as autoridades se trancaram numa sala e decidiram impor cotas no molde supracitado. Houve protesto sim, mas eu não fui. No cursinho havia aulas importantes. E eu sabia, no fundo, que as pessoas que estavam lá eram baderneiras pagando de rebeldes e politizadas. Pagando de caras pintadas do “fora Collor” e tudo o mais. O pessoal da rede pública agredia demais. O pessoal da rede particular também. Mas o diferencial foi a baixaria com a qual os primeiros argumentavam. Enfim, não resolveram nada e os play boys acabaram na rua da lama (espécie de point universitário, paradeiro de cults e estudantes ‘descolados’).
A questão não é, em si, entrar ou não. O problema é quem e como entra. As pessoas costumam achar que o ingresso da população carente ao ensino superior é a solução do problema da educação e, de quebra da violência. Nossa, como está equivocado esse conceito. 40% para quem não atingiu o mínimo aceitável de nota, segundo conceitos da própria instituição “não está apto a cursar o ensino superior, além de não ter maturidade aceitável”. Isso irá gerar segregação e muito preconceito. Fora a diferença de nível de conhecimento que todos já conhecemos desde o ensino fundamental. No ensino superior, possivelmente, as pessoas são mais maldosas. Já deu pra perceber que são dois pesos e duas medidas.
Sim, sou a favor das cotas. Desde que sejam de forma descente. Nada de 40% e 5% de aumento ao ano. Nada de Cefetes, caso bolsistas sejam descartados. Isso é ridículo e até injusto. Nada de gente com mais de 30 pontos de diferença de fora por ‘falta de vagas’. Existe a exclusão, mas existe também a dedicação. Não quero pagar de pseudo-burguesa, mas é o que eu vejo.
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